sábado, 23 de abril de 2011

HISTÓRIA DO TEATRO DE ANIMAÇÃO

“O BONECO É ANTERIOR AO HOMEM.”

”...Segundo a Bíblia, no princípio era a ação (a da ação fez-se o drama) depois o primeiro ser humano foi feito de barro e animado com o sopro do espírito. Da divisão desse ser (costela) surgiram o homem e a mulher.”

( Mestre Sólon de Carpina / 1920-87)

É impossível localizar exatamente temporal e geograficamente a origem do teatro de animação e muitas são as versões a esse respeito. Certo é que ele nasceu na aurora dos tempos e das culturas. Vários são os gêneros da arte titeriteira e cada técnica teve sua origem específica em determinada época e lugar, porém, assumindo-se o caráter agregador do termo utilizado atualmente, pode-se dizer que a origem geral aponta à pré-história.

Não se sabe qual foi o primeiro a surgir, mas é provável que tenha sido o TEATRO DE SOMBRAS. Após a descoberta do fogo, o homem percebeu que poderia interferir, interagir e mesmo brincar com a projeção de sua imagem na parede das cavernas. Essa parece ser a origem mais remota do teatro de formas animadas, mas existe ainda uma outra manifestação, tão antiga como essa: a máscara.

Desde o início dos tempos o surgimento de mitos e deuses foi povoado pela animação. O homem criou as MÁSCARAS para incorporar as entidades da natureza como o trovão, o raio e a chuva, os animais poderosos que ele temia. O mais antigo registro do uso de máscaras que se tem notícia foi deixado nas paredes da caverna de Lascaux, na França, mostrando caçadores mascarados com cabeças de animais. Era uma forma deles adquirirem a força dos mesmos e assim garantirem o sucesso da caçada. A máscara era utilizada, também, para se aproximar dos deuses e das forças da natureza, nos rituais indígenas, africanos e orientais religiosos.

No EGITO (3.100a.C. a 30a.C.) eram utilizadas máscaras em funerais, para que o morto fosse reconhecido “no além”. Outro recurso de animação utilizado no Egito eram estátuas gigantes de deuses que produziam pequenos acenos de cabeça para provocar a comoção no público. “Bonecos” dessa mesma natureza são as imagens de Rocca, das igrejas cristãs.

Como espetáculo, o teatro de animação teve sua origem juntamente ao teatro grego. Ele surgiu na GRÉCIA ANTIGA (1.000a.C. a 323a.C.) nos rituais em louvor a Dionísio (deus do vinho e da fertilidade). Os personagens utilizavam máscaras para representar as divindades em procissões anuais.

A vida dos deuses começou, então, a ser representada nos festivais gregos em forma de tragédias. A comédia, a principio, tinha um papel secundário e foi aí onde foram introduzidas as primeiras marionetes. Os gregos acreditavam na purificação de sua alma através do cumprimento do destino do herói na peça (catarse) – purgação de humores. Já nesses espetáculos eram utilizadas engenhocas, como DEUS-EX-MACHINA, para voar por exemplo, entre outros mecanismos fascinantes, mas as máscaras estavam sempre presentes e detinham a importância principal. Da Grécia, o teatro foi para Roma e espalhou-se pela Europa e pelo mundo.

Séc. V a XV - A IDADE MÉDIA (476 d.C. a 1453 d.C.), marcou o desaparecimento quase por completo das máscaras, conservando-se o uso apenas em festas religiosas. Os primeiros cristãos atribuíram sua utilização a cultos pagãos, tornando-as quase ilegais. O teatro de títeres, muito utilizado até então, inclusive em catequeses, também foram relegados à marginalidade e criaram-se guetos á partir dessas perseguições. As trupes se fecharam em torno de famílias marionetistas, com o ofício passado pela corrente geracional.

Quando começaram as proibições de se usarem marionetes dentro das igrejas, tornou-se costume compor com elas presépios de autômatos na época do natal, nos átrios das igrejas, e acabaram por usá-los em inúmeras ocasiões, no séc.XIV. Os desfiles de personagens e autômatos generalizaram-se a ponto de aparecerem com freqüência no mostrador de enormes relógios, como na Catedral de Estrasburgo.

O ORIENTE tem uma tradição antiqüíssima e peculiar no que concerne às artes e à cultura e são diversas as lendas sobre suas origens aí. Algumas delas indicam a Índia e também a China como berço do teatro de títeres, mas ele ocorreu em países como a China, Índia, Java e Indonésia, no antigo Oriente. Os bonecos de sombra são muito populares nessas regiões e em quase toda a Ásia. Java possui diferentes expressões teatrais denominadas Wayang, termo que alguns indicam como sendo "sombra" outros como "teatro". Esse último se aproxima mais da realidade, pois a palavra é empregada não só para denominar espetáculos de sombras. As representações de wayangs são feitas por um só dalang (intérprete) que recita e canta acompanhado da gamelam (orquestra típica da região).

O BUNRAKU, por exemplo, também chamado “ningyo joruri”, um nome que remete a sua origem e essência (Ningyo quer dizer "boneco" e joruri designa um tipo de narração dramática cantada acompanhada pelo shamisen, um instrumento musical de três cordas) é uma forma de expressão artística que existe tradicionalmente no Japão desde PERÍODO EDO (1603-1868).

As máscaras ressurgiram na RENASCENÇA (séc. XIV a XVI), quando voltaram ao teatro com a redescoberta da comédia, mas com o advento do Cristianismo, o Teatro de Bonecos ficou abafado e era representado apenas em feiras e cabarés. Na Itália, os personagens estereotipados da comédia latina transformaram-se em tipos nacionais e provincianos da Commedia dell’Arte. As máscaras eram feitas em couro fino, costuradas na roupa branca, sendo que as mais conhecidas são as dos personagens Pierrot, Colombina, Pulcinela e Arlequim.

Na AMÉRICA, o surgimento do teatro de bonecos aconteceu por volta do séc.XVI, período dos grandes descobrimentos.

Com o desenvolvimento da ESTÉTICA REALISTA (1870) caem em desuso, novamente, as máscaras e os bonecos no teatro europeu. Contra o romantismo, o classicismo e o melodrama, surgem movimentos (´ismos – ex. naturalismo) com interesse num teatro mais visual, poético, evocativo, que não reproduza simplesmente a vida, mas abra-se para o sonho, a magia, a vida interior.

Em reação ao realismo, surge no séc. XX o SIMBOLISMO buscando um teatro capaz de captar movimentos interiores da alma. Os autores (Maeterlinck, Ibsen, etc) buscaram levar ao palco não personagens propriamente ditos, mas alegorias a representar sentimentos, idéias, em peças onde o cenário (som, luz, ambiente, etc.) teriam maior destaque. Como veremos a seguir, essa é a principal característica dos objetos e bonecos: representar idéias, conceitos.

BRASIL
A primeira notícia que se tem a respeito do Teatro de Bonecos no Brasil refere-se a mais ou menos 200 anos após o Descobrimento.
Foi introduzido primeiramente em forma de presépio (séc. XVII) por FREI GASPAR de St. Antônio, no Convento dos Franciscanos de Olinda, em Pernambuco, (1º casa franciscana do Brasil), desenvolvendo-se gradualmente até chegar ao mamulengo, utilizado, primeiramente, para a evangelização.

No livro "O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis" foram mencionadas apresentações de teatro de marionetes, no século XVIII, por Luiz Edmundo.

No século XIX, imigrantes germânicos também trouxeram o seu teatro de títeres, o Karspeltheater, que ainda hoje existe no Rio Grande do Sul e é considerado uma das manifestações mais interessantes entre os fenômenos de aculturação do folclore gaúcho, onde se identificam e confluem tradições germânicas e lusas em território brasileiro.
No séc. XIX, os títeres perdem o caráter litúrgico e adquirem o sentido profano que conservam atualmente.

Ora perseguido e excomungado, ora utilizado e adorado pela igreja, o Teatro de Animação sobreviveu às perseguições políticas e religiosas e foi representado desde os salões de realeza até as feiras, de igrejas às casas mais pobres, da casa-grande à senzala, de lá até hoje.

CONCLUSÃO...

FIM DO SÉC. XIX – Era considerado expressão de teatro popular ou popularesco, beirando o pitoresco e o bizarro.

ALVORECER DO SÉC. XXI – É uma forma dramática que funde múltiplas expressões artísticas, detentor de destaque no panorama da arte contemporânea.

Essas parecem ser as explicações plausíveis para o surgimento dessa arte!


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